É NATAL...
Agora que o Natal está quase a chegar é bom recordar que olhando para a cidade à nossa volta podemos descobri-la em todo o seu esplendor. Mas é a cidade que está em cima, aquela que se joga com a luz do céu, das brumas, do Sol e das nuvens(…).
Não olhem para os ornamentos, laços e enfeites, para as montras, para as pessoas atarefadas, para os homens e as mulheres que conduzem, não ouçam os barulhos que produzem, resistam às prendas, às marcas e atracções (…),e olhem para cima, observem quanto a cidade pode ser esplendorosamente sugestiva. E grande.
(…) Em casa, com as janelas bem fechadas e os aquecimentos ligados, leiam ou releiam, por exemplo, As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino e entre um levantar de olhos no livro, dediquem um tempo a observar as vossas plantas e reparem no ritmo microscópico do seu crescimento e da serenidade com que vivem, indiferentes ao bulício da vida lá fora.
Arredem os móveis e tapetes, estendam-se descontraidamente no chão e exercitem os músculos, as articulações, mexam-se e respirem conscientemente. Se puderem resistam à TV, ao cabo e a toda essa parafernália. Não vejam notícias e o que eles querem que passe. Desintoxiquem-se. Façam a vossa própria história. Descubram os pequenos prazeres que se deparam nas pequenas banalidades que nos circundam. E se mesmo até uma mosca, no vosso lar, ainda resistir aos frios da estação, observem como ela inocentemente tenta sobreviver às agruras do tempo, simplesmente tentando aquecer-se no abat-jour da sala. Falem com ela e chamem-lhe nomes para afugentar o vosso tédio.
Terminado o vosso périplo quotidiano, descalcem o que vos liga à terra, deslizem no sofá e deixem-se levar pelos pensamentos, com os olhos fixos no tecto da sala, cruzados com os barulhos de fundo da casa e da cidade, expandindo-se para o todo o território, para o continente, para os mares, as outras cidades, o mundo, o planeta, e outros planetas, as constelações, todos os sistemas, o universo, as estrelas, o branco, o preto, o buraco, até mesmo ao vazio.
No dia seguinte, ao recomeçar, rotineiramente, o dia de mais um dia, não se esqueçam de estar atentos então aos pequenos sinais, acontecimentos e simples curiosidades que podem surgir de um momento e que ajudam a construir e a procurar em nós tudo aquilo que roubámos dos outros.
Não olhem para os ornamentos, laços e enfeites, para as montras, para as pessoas atarefadas, para os homens e as mulheres que conduzem, não ouçam os barulhos que produzem, resistam às prendas, às marcas e atracções (…),e olhem para cima, observem quanto a cidade pode ser esplendorosamente sugestiva. E grande.
(…) Em casa, com as janelas bem fechadas e os aquecimentos ligados, leiam ou releiam, por exemplo, As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino e entre um levantar de olhos no livro, dediquem um tempo a observar as vossas plantas e reparem no ritmo microscópico do seu crescimento e da serenidade com que vivem, indiferentes ao bulício da vida lá fora.
Arredem os móveis e tapetes, estendam-se descontraidamente no chão e exercitem os músculos, as articulações, mexam-se e respirem conscientemente. Se puderem resistam à TV, ao cabo e a toda essa parafernália. Não vejam notícias e o que eles querem que passe. Desintoxiquem-se. Façam a vossa própria história. Descubram os pequenos prazeres que se deparam nas pequenas banalidades que nos circundam. E se mesmo até uma mosca, no vosso lar, ainda resistir aos frios da estação, observem como ela inocentemente tenta sobreviver às agruras do tempo, simplesmente tentando aquecer-se no abat-jour da sala. Falem com ela e chamem-lhe nomes para afugentar o vosso tédio.
Terminado o vosso périplo quotidiano, descalcem o que vos liga à terra, deslizem no sofá e deixem-se levar pelos pensamentos, com os olhos fixos no tecto da sala, cruzados com os barulhos de fundo da casa e da cidade, expandindo-se para o todo o território, para o continente, para os mares, as outras cidades, o mundo, o planeta, e outros planetas, as constelações, todos os sistemas, o universo, as estrelas, o branco, o preto, o buraco, até mesmo ao vazio.
No dia seguinte, ao recomeçar, rotineiramente, o dia de mais um dia, não se esqueçam de estar atentos então aos pequenos sinais, acontecimentos e simples curiosidades que podem surgir de um momento e que ajudam a construir e a procurar em nós tudo aquilo que roubámos dos outros.
Miguel Pereira
(42 anos, performer e coreógrafo. Actualmente apresenta o seu mais recente trabalho coreográfico Corpo de Baile, numa digressão europeia).
Jornal de Letras, nº918 De 7 a 20 Dezembro de 2005
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